Vamos nesse post fugir um pouco da pura bioquímica.
Pelos posts desse blog já deu pra perceber que a tendência dos estudos quanto a saúde está focada principalmente no aumento de colesterol HDL, redução do colesterol LDL e aumento do w-3 em relação ao w-6.
Esses dois assuntos são tão frequentes que quase esquecemos que o LDL e o w-6 também são extremamente importantes para o corpo humano. Até mais do que os considerados mocinhos (w-3 e HDL). Por exemplo, o LDL, responsável por levar colesterol e outros lipídeos do fígado para os órgãos, é extremamente importante para que as células consigam obter colesterol para realizar suas funções básicas.
O w-6 é tão importante que, apesar de todos os benefícios fornecidos pelo w-3, ainda recomenda-se que a proporção de ingestão de w-6/w-3 seja de 3/1 ou até 4/1. Como vimos na tabela do post abaixo, uma pessoa que apresente mais LDL que HDL no sangue ainda é considerada muito saudável por padrões internacionais.
Sendo isso tudo verdade, porque tanta coisa mostrando a importância do w-3 e do HDL?
A resposta é simples. O desequilíbrio destes elementos na alimentação e no modo de vida contemporâneo é impressionante. A falta de exercício físico, a má alimentação e o abuso de gorduras saturadas em vários produtos mercadológicos fazem a quantidade de LDL disparar no corpo humano e o que era pra ser uma coisa importante pro organismo acaba se tornando um problema como a aterosclerose, que foi explicada alguns posts atrás.
Quanto ao ômega-3 e ômega-6. Por que é muito mais difícil de se ver recomendações de ingestão de w-6? Simplesmente porque a dieta dos países ocidentais cada vez mais desaparece com o w-3 e aumenta o w-6. A proporção é em torno de 20:1 pode chegar a 50:1 em alguns países, como pode ser visto em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1415-52732006000600011&script=sci_arttext&tlng=em. Por que isso acontece?
O w-6 é facilmente obtido de sementes oleaginosas, de onde vem a maior parte do óleo utlizado na alimentação atualmente. Além disso mesmo as espécies animais tendem a ser alimentadas com ração originada de grãos, o que aumenta também nas carnes a proporção de w-6 em relação a w-3
O w-3, por outro lado, é mais freqüente principalmente em peixes e em óleo de linhaça.
Eu sinceramente não consigo nem me lembrar qual foi a última vez que eu comi peixe. Óleo de linhaça então. Acho que nunca nem vi. Na verdade hoje foi a primeira vez que eu vi o que é linhaça:
Esse desequilíbrio alimentar enorme nas sociedades modernas é decorrente do processo de globalização e produção em massa de alimentos. Cada vez mais a indústria alimentícia mundial cria produtos de altíssimo teor calórico e com grande quantidade de lipídeos buscando sabor forte e economia na produção.
Não, não. Esse blog não vai tentar dizer a vocês que o problema alimentar mundial é mais um aspecto nocivo da cultura imperialista estadunidense, que a globalização é nociva para as sociedades e que antes da entrada das indústrias o mundo era lindo e perfeito. Vamos nos focar apenas na má utilização das novas opções alimentícias.
Com a difusão das grandes redes de supermercados e de fast-food no Brasil no começo dos anos 90, foi clara a redução da participação das comidas tradicionais e o início do aumento de comidas padronizadas. Os principais responsáveis por essa mudança, principalmente na população jovem, são os congelados e os fast-foods, que, além de trazerem um sabor muito bom, são extremamente práticos. Assar uma Pizza congelada é bem mais fácil que preparar uma alimentação balanceada e fazer receitas caseiras. Como junto com a globalização veio a necessidade de se acelerar a vida, o consumo desse tipo de alimento padronizado, rápido e extremamente calórico e desbalanceado aumentou enormemente em pouco tempo.
Além disso, com o surgimento de grandes redes de produção alimentícia, alguns produtos foram extremamente barateados e tem hoje quase o monopólio do mercado. Por exemplo temos as sementes de oleaginosas, grandes fornecedoras do importantíssimo ômega-6. Além de estarem presentes na alimentação normalmente, elas ainda são parte fundamental dos vários óleos da alimentação (muito presentes em fast-foods) e ainda servem de ração para os animais, deixando a carne que nos alimentamos com quantidades bem maiores de w-6 que o normal. Com esse desequilíbrio o ômega-6 acaba competindo com o ômega-3 (os dois possuem a mesma enzima) e, por estar em maior quantidade, inibe as ações fundamentais do w-3 no organismo causando uma série de problemas que vão de piora no quadro de asma a problemas cardíacos, sendo o aumento da proporção de w-3 relacionado inclusive com a melhora de quadros de câncer como visto em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1415-52732006000500009&script=sci_arttext&tlng=es
O consumo de peixes, por outro lado, importante para o consumo de w-3, é extremamente baixo nas comunidades modernas. Os peixes não são vendidos em escala semelhante à da carne bovina ou de frango, por isso seu preço é bem maior. Além disso não é muito presente o consumo desse tipo de alimento em fast-foods. Carne de peixe é presente em pratos caseiros geralmente complicados ou em restaurantes caros. Resultado? O consumo de peixe representa cerca de 0,2% do consumo de energia na população brasileira nas regiões sudeste, sul e centro-oeste, as mais integradas a globalização. Na região Norte, menos afetada que as demais por esse fenômeno e com tradições alimentares próprias, o consumo de carne de peixe corresponde a 3,1% da aquisição calórica. Quinze veses mais do que na região sudeste!!
Essa necessidade da industria alimentícia de criar alimentos mais baratos, práticos e de sabor agradável também criou o outro objeto de estudo deste blog. As gorduras trans. Como já vimos, elas são fabricadas sinteticamente a partir de óleos vegetais hidrogenados e não são reconhecidas pelo organismo propriamente. Dessa forma causam os vários problemas explicados pelo nosso companheiro de blog Jean em um post anterior: obesidade, piora na proporção LDL/HDL e etc.
O que temos que entender disso então? Vamos cortar todos os sanduíches, bolachas, margarinas, óleos e tudo mais da dieta e pronto? Claro que não. O consumo de qualquer tipo de alimento visto como nocivo por níveis de gorduras trans, gorduras saturadas ou w-6 não causa qualquer problema desde que eles não representem a totalidade da alimentação. O problema é a adesão da população a uma cultura de Super Size Me permanente.
Referências:
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1415-52732006000500009&script=sci_arttext&tlng=es
http://www.scielosp.org/pdf/rsp/v39n4/25522.pdf
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1415-52732006000600011&script=sci_arttext&tlng=em
http://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=j-C-rY5kXl4C&oi=fnd&pg=PA11&dq=propor%C3%A7%C3%A3o+de+omega+6+nas+dietas+atuais&ots=Uxo3uUIvqh&sig=f0nBgG9Wzl0XrxQFB4hPT4gaZQU#v=onepage&q&f=false (Apenas as primeiras páginas liberadas para exibição pela editora neste link)
http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/perguntas_respostas/gordura-trans/index.shtml
http://revistaescola.abril.com.br/ciencias/fundamentos/gordura-trans-471120.shtml
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