Meu último post foi sobre os medicamentos que podem ser usados para o tratamento de problemas relacionados ao colesterol.
Todos sabemos da importância dos medicamentos para o mundo hoje em dia, mas sabemos também que a busca de uma melhora no quadro de saúde através de uma simples mudança de hábitos como uma melhor alimentação é bem mais segura e simples.
No caso do colesterol, um método de dieta é bastante difundido como método de melhorar o perfil lipídico do indivíduo. Trata-se da Dieta Mediterrânea.
Vamos começar tentando entender do que se trata essa dieta.
Pelo nome já dá pra ter uma ideia do local onde essa dieta foi caracterizada, né? Apesar do Mediterrâneo ser uma região bem extensa, o local onde esse tipo de dieta é melhor caracterizado é a Grécia.
E o que há de tão especial nessa dieta? Vários são os benefícios de saúde tidos como fruto de uma dieta semelhante à mediterrânea. Para nosso estudo, o mais importante é que os países dessa região que mantem esse padrão alimentar apresentam indices de doenças cardiovasculares bem inferiores aos encontrados em outros países do mundo.
A principal característica desse tipo de alimentação é a redução da quantidade de gorduras saturadas em relação as gorduras insaturadas. O que é simbolizado principalmente pelo maior consumo de peixes, vegetais e óleo de oliva, todos fontes consideráveis de gorduras mono e poliinsaturadas, além da presença do importantíssimo w-3 no peixe, o que já foi mostr5ado aqui no blog. Isso confirma o que foi dito anteriormente por aqui. Não é a ingestão de gordura o grande problema. O problema são as proporções e o equilíbrio das dietas.
Os constituintes da dieta Mediterrânea são muito variáveis como os de qualquer dieta. Definí-los não é tarefa fácil. No entanto uma boa definição pode ser a definida na COnferência Internacional das Dietas do Mediterrâneo (sim, isso existe) em 1993: A dieta Mediterrânea consiste de um padrão composto por: Abundante consumo de vegetais; frutas frescas da estação locais minimamente processadas; sobremesas tipicamente bazeadas em nozes; óleo de oliva como principal fonte de gordura extra, menos de 4 ovos consumidos por semana; carne vermelha consumida em pequena frequência e quantidade; vinho consumido MODERADAMENTE; consumo de peixes de 4-5 veses por semana; consumo de cereais não refinados como o arroz marrom.
Pra simplificar e pra quem se interessar na dieta mediterrânea. Existe uma pirâmide alimentar, que encontramos no site: http://www.pha.nu.ac.th/rx13/uploads/Ghostchild/2010-02-12_221926_Nutrition_and_Metabolism_2009.pdf#page=271
Destaque para a recomendação de atividade física diária.
A mais antiga e principal referência de estudo para as dietas Mediterrâneas é o “Keys A. Coronary heart disease in seven countries.”. Um estudo feito com mais de 11.500 pessoas por 15 anos que analisou a menor mortalidade em países mediterrâneos quanto a doenças cardiovasculares. A maioria dos trabalhos atuais cita esse longo estudo, que foi o primeiro responsável por mostrar diferenças de casos de morte por doença coronária relacionadas a alimentação usual de determinados países.
Cardio 2000 foi um estudo enorme que tentou associar nutrição, estilo de vida e condições sócio-demográficas com risco de se desnvolver Doença coronária. Vários de seus subestudos nos trazem dados importantes sobre a dieta Mediterrânea.
O uso de dieta mediterrânea associada a estatina foi responsável por uma redução de 43% (!!!) no risco de doença cardiovascular. No caso de hipertensos, o benefício de uma dieta mediterrânea isoladamente foi de 17%, uma melhora considerável considerando-se o não uso de medicamentos.
Esses resultados foram acompanhados por uma mudança forte no perfil lipíidico dos participantes da pesquisa. A mudança de VLDL, lipoproteínas de densidade muito baixa, foi de 17,5% na média, chegando a 35% em alguns indivíduos. O nível de triglicerídeos plasmáticos foi reduzido em média 10,2%, chegando a 31,6% em alguns casos.
Outro ponto muito interessante da Dieta Mediterrânea é a facilidade que os participantes da pesquisa tem em manter esses hábitos alimentares. Nas várias pesquisas realizadas emq ue os indivíduos são submetidos a esse tipo de dieta, são altos os índices de participantes que mantem esse padrão alimentar mesmo anos após o fim dos testes. Isso ocorre porque, ao contrário de muitas das dietas consideradas saudáveis, a dieta mediterrânea é composta de alimentos muito saborosos. A quantidade de gordura em uma dieta desse tipo chega a 40%, mas devido a boa qualidade dos alimentos, essa alta taxa de ingestão de gordura não traz malefícios para o organismo.
Meu Deus. Então porque o mundo todo não segue essa dieta e reduzimos consideravelmente os problemas cardiovasculares? A resposta é simples. Não é fácil seguir esse tipo de dieta.
Como eu já mostrei no meu post sobre padrão alimentar ocidental, alimentos baseados em peixes como os da dieta mediterrânea são caros e de difícil preparo. É muito mais fácil fazer arroz, feijão, ovo frito e carne moída do que um molho de peixe ou sei lá o que, o que conta mundo no padrão de vida de vários países do mundo. Frutas também são caras e grande parte da população não tem acesso frequente a esse tipo de produto. No caso de frutas frescas e sem processamento o caso é ainda mais complicado. Elas são ainda mais caras e “perdem” rapidamente.
O óleo/azeite de oliva, muito forte em todas as dietas mediterrâneas e grande responsável pelo sabor e atratividade principalmente das saladas é bem mais caro que o óleo de soja.
Uma rápida pesquisa de preços no site da rede de supermercados Pão de Açúcar já mostra o tamanho da diferença:
500mL de azeite de oliva compram 6000mL de óleo de soja.
O preço do azeite inviabiliza seu consumo frequente por boa parte da população ocidental, principalmente no caso de países que tem boa parte de sua população fora do mercado de consumo desse tipo de produto.
Estudiosos como o Dr. Michel de Lorgeril, são enormes defensores desse tipo de dieta ser considerado um tratamento para problemas relacionados ao colesterol substituindo em muitos casos o uso de medicamentos. Ele acredita que há um lobby de favorecimento ao uso de remédios como os que eu publiquei no meu último post feito pela indústria farmacêutica. De fato, hoje em dia, as estatinas são receitadas muto facilmente em vários lugares do mundo. Esse costume estimula os pacientes a manterem um padrão de vida nada saudável, acreditando que estão protegidos pelo uso de drogas, o que não é verdade.
A dieta Mediterrânea apresenta indícios de vários outros benefícios. Existem efeitos descritos na saúde do diabético, no controle da síndrome metabólica, no controle de doenças neurológicas, na redução dos prejuízos cognitivos na terceira idade, em dietas de emagrecimento…. Vários estudos em várias vertentes são constantemente realizados sobre os benefícios de tipos de alimentação. Enfim. Falar sobre todos os aspectos desse assunto nos levaria um semestre e um blog inteiro no mínimo. Por isso nos focamos apenas no que se relaciona mais diretamente ao nosso estudo.
Referências:
http://bdm.bce.unb.br/bitstream/10483/497/1/2006_AnaBeatrizMontaniniAlvesRezende.pdf (Trabalho publicado na UnB )
http://michel.delorgeril.info/ (Mais uma ideia do que uma referência. O blog é de um estudioso da relação alimentação/doenças. Fala de colesterol, ômega 3, ômega 6 e muitas outras coisas. O autor, Dr. Michel de Lorgeril, foi usado como referência. O blog não, pois está em francês. Acredito ser uma ótima opção de leitura pra quem sabe francês.)
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