Então. Já falamos muito e muito de doenças relacionadas aos nossos queridos temas de estudo. Falamos de dietas e também falamos de síndromes genéticas.
Agora vamos discutir os tratamentos para pessoas que não conseguem melhorar seus níveis séricos de colesterol e lipoproteínas relacionadas apenas pela alimentação ou outros métodos naturais. Vamos falar de drogas que se relacionam ao metabolismo do colesterol.
Já vamos começar pela classe mais importante dessas drogas: As Estatinas. As estatinas são atualmente a classe de drogas mais empregada no tratamento de doenças relacionadas ao colesterol.
Sua síntese é resultado de anos e anos de estudos e de altíssimos investimentos da indústria farmacêutica. O seguinte artigo trata do histórico de descobrimento das primeiras estatinas:http://www.jstage.jst.go.jp/article/pjab/86/5/484/_pdf
Para evitar que esse post fique monstruosamente grande vamos nos deter aqui ao modo de ação dessa droga.
A estatinas são compostos que tem estrutura similar ao HMG-CoA, um dos precursores do colesterol sintetizado pelo organismo. A atuação dessa droga se dá pela competição dela com o HMG-CoA pela mesma enzima, a HMG-CoA redutase, que catalisa a reação definidora da síntese de colesterol:
Como a HMG-CoA não consegue seguir seu ritmo normal rumo a síntese de colesterol, os níveis deste no sangue podem ser drasticamente reduzidos. Além disso as estatinas se relacionam também a um aumento dos receptores de LDL nas membranas (Isso mesmo. Aqueles receptores que eu mostri no meu último post.). Dessa forma, pessoas que apresentam males como a hipercolesterolemia familiar e não conseguem reduzir seus níveis de colesterol e manter a saúde.
No artigo que eu demonstrei vemos os passos para o desenvolvimento dos primeiros tipos de estatinas. Hoje são vários os existentes. Todos baseados em moléculas que contém uma região semelhante a HMG-CoA ligada a uma cadeia variável. O mesmo trabalho citado mostra vários tipos conhecidos de estatinas:
É importante destacar que apesar de possuírem estruturas semelhantes, as estatinas tem ações diferentes e seu uso deve ser controlado por recomendação médica.
Além dessa função clássica das estatinas, nos últimos anos foram descobertos mais benefícios que elas podem causar, não necessariamente ligados a problemas de colesterol. Nessa área é importante destacar os efeitos anti-inflamatórios das estatinas.
Como nós já sabemos, a placa aterosclerótica se forma basicamente a partir de uma pequena lesão em algum vaso. Essa lesão pode ser causada por pressão alta, altos níveis de glicose sanguínea ou qualquer outro fator. Enfim. Uma vez que essa lesão ocorre, o organismo providencia uma resposta imunológica para essa lesão. Essa resposta consiste em um processo inflamatório. Esse processo se dá principalmente por células de defesa do tipo macrófagos, que acabam fazendo parte do agregado da placa aterosclerótica.
É bem no que falamos nessa micro-revisão que as estatinas parecem atuar. Estudos relativamente recentes (5 anos) mostram que além dos efeitos tradicionais de inibir a síntese do colesterol e aumentar a síntese de receptores de colesterol, as estatinas tem efeitos anti-inflamatórios.
O seguinte trabalho: http://www.scielo.br/pdf/abem/v51n4/a04v51n4.pdf mostra os efeitos anti-inflamatórios das estatinas do ponto de vista farmacológico. O trabalho em inglês:http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1993933/?tool=pubmed mostra que a estatina atorvastatina em altas doses mostra resultados que chegam a redução de 47% de um dos marcadores de resposta inflamatória, a Proteína-C-Reativa (CRP).
Esses resultados levam a possibilidade de uso das estatinas em outros tratamentos que não os de doenças lipídicas. Novamente vou repetir. Não vamos nos aprofundar em detalhes do uso de anti-inflamatórios, ou teríamos que fazer outro blog. Só pra exemplificar: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16759838 Aqui vemos a existência de uma publicação sobre os efeitos de simvastatina cutânea em inflamações de pele (!). Mais um artigo sobre uso cutâneo de estatinas, agora brasileiro: http://pesquisasaude.saude.gov.br/bdgdecit/criaPdf.php?codigo=260. Mais um trabalho interessante relaciona a melhora na insuficiência renal crônica ao uso de estatinas: http://www.scielo.br/pdf/%0D/abc/v85s5/v85s5a12.pdf . O trabalho diz: “Interessante que, em ratos espontaneamente hipertensos, as estatinas reduzem a proteinúria relacionada a doença renal de forma independente dos valores de pressão arterial e colesterol”. Efeitos também são encontrados em asma e poderíamos continuar aqui mais alguns parágrafos….
E você leitor? Achando que finalmente terminamos com estatinas? Aí que você se engana!
Vocês também viram que o principal problema que a aterosclerose causa é a obstrução de uma arteria a partir do rompimento de uma placa. Acreditem ou não as estatinas também parecem atuar nisso.
No mesmo trabalho que citamos como referência dos efeitos anti-inflamatórios das estatinas, vemos que elas conseguem estabilizar as placas ateroscleróticas impedindo que elas se rompam e provoquem bloqueios arteriais. As estatinas atenuam a ativação de fibrinogêmio e protrombina, além de inibir a agregação plaquetária. Dessa forma, o processo inflamatório causado pela lesão no vaso acaba não se desenvolvendo o suficiente para se romper e causar maiores danos.
Mais uma forma que a placa encontra de se instabilizar é a partir da oxidação de moléculas de LDL que estão agregadas. Em várias pesquisas, incluindo essa: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15238821?dopt=Abstract, que, por ser paga, só conseguimos ter acesso ao abstract, mostram os efeitos anti-oxidantes das estatinas. Esse estudo afirma que as estatinas inibem marcadores de oxidação como a nitrotirosina. Além disso as estatinas inibem efeitos oxidantes de enzimas como NADPH reduzido, além de favorecer a atuação de anti-oxidantes naturais como a catalase dos peroxissomos.
Pra fechar, as estatinas ainda conseguem modelar o endotélio das regiões afetadas pelas placas ateroscletóticas. Dessa forma ela impede que as paredes se tornem rígidas e instáveis, liberando as placas para a corrente sanguínea.
Impressionante!. As estatinas atuam das mais diversas formas no tratamento e mesmo na prevenção de doenças cardiovasculares, além de se mostrar como um possível tratamento para outras doenças a partir dos seus efeitos anti-oxidantes e anti-inflamatórios. Hoje em dia as estatinas são facilmente encontradas e tem uma logística de distribuição boa até em países em que o acesso a medicamentos nem sempre é tão fácil como no Brasil. Vários são os profissionais que aconselham seu uso até como prevenção para problemas cardíacos.
Mesmo com todas essas funções, as estatinas ainda não são a droga perfeita. Vários casos de problemas de perfil lipídico não são completamente revertidos apenas com o uso dessa classe de medicamentos. Para isso existem os tratamentos secundários. Esses tratamentos geralmente são usados juntamente com as estatinas para aumentar seus efeitos ou mesmo para lutar em outros “fronts” na luta contra a aterosclerose. Ainda nesse mesmo post vamos mostrar um dos tratamentos que geralmente são usados juntamente com as estatinas para tratar problemas relacionados a lipídios.
O próximo tipo de tratamento que vamos ver para pacientes com problemas de HDL/LDL/TG/Colesterol no sangue é o que usa Fibratos.
Os fibratos são extremamente eficientes no aumento da degradação de triglicérides, derivados da ingestão de gorduras, reduzindo de 20 a 50% sua concentração sanguínea de acordo com a seguinte tabela encontrada em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-27302006000200021&lang=pt
Esse efeito de aumento da degradação de lipídeos é feito pela inibição de um inibidor (Aiaiai) das lipases. Dessa forma as células conseguem digerir mais eficientemente os lipídeos impedindo que eles permaneçam viajando pelo sangue por meio das LDL, VLDL ou outros transportadores dotados de colesterol que nós já estudamos.
Além disso as estatinas tem capacidade de ativar uma proteína do peroxissomo denominada PPAR, que consegue aumentar a síntese celular de ApoA-I e ApoA-II, as principais constituintes das HDL. Também já estudamos anteriormente as HDL e já sabemos que sua função de transporte dos várioss órgãos para o fígado é de extrema importância para a saúde do indivíduo.
Devido a pequenos problemas técnicos, na edição desse post para o aumento da parte de estatinas, a parte que tratava de Niacina e mais algumas observações se foram. Então por agora é isso. Ainda pretendemos tratar de mais dois tratamentos possíveis por meio de medicamentos. Os tratamentos por Niacina e por Flavonóides. Aguardem!
Referências:
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2971704/?tool=pubmed
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0004-27302007000400004&script=sci_arttext
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-27302006000200021&lang=pt
http://www.jstage.jst.go.jp/article/pjab/86/5/484/_pdf
http://www.scielo.br/pdf/abem/v51n4/a04v51n4.pdf
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16759838
http://www.scielo.br/pdf/%0D/abc/v85s5/v85s5a12.pdf
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15238821?dopt=Abstract
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1993933/?tool=pubmed
2 comentários:
Na realidade as estatinas trazem muito mais problemas que benefícios. vejam no Google academico a verdadeira face das estatinas...
Já busquei a informação é realmente a máfia da indústria farmacêutica só se preocupa com dinheiro.
Assista aos vídeos do Dr. Lair Ribeiro
E veja qual é a verdade.
Postar um comentário